Os tres porquitos
Era uma vez tres porquitos que foram pelo mundo procurando a sua fortuna.
O primeiro porquito não andou muito, encontrou um homem que levava um mólho de palha e disse-lhe:
- O senhor não me dava uma pouca de palha para eu fazer uma casa?
Com muito prazer, respondeu o homem, e deu-lha.
O porquito foi muito contente e fez a sua casa.
Havia perto um lobo manhoso que resolveu comer o porquito para a ceia. Era noite e o lobo bateu à porta e perguntou:
- Diz-me, porquito, se eu posso entrar na tua casa?
Mas o porco, que lhe conheceu a voz, respondeu logo:
- Não, não, não entras, te juro pelo pêllo da minha barbicha, ica, icha.
- Oh! oh! Gritou o lobo, então vou soprar e bofar até fazer a tua casa cahir!
E assim fez: bofou, soprou, soprou e bofou de tal maneira que a casa cahiu; e o lobo comeu o porquito.
Ao segundo porquito succedeu-lhe encontrar um homem que levava um mólho de paus.
- O senhor dava-me uns para eu fazer uma casa?
- Com muito prazer, disse o homem, e deu-lhe os paus.
Lá se foi o porquito muito contete fazer a sua casa com toda a perfeição.
Nesta noite foi-lhe bater à porta o mesmo lobo, que lhe disse:
- Diz-me, porquito, se posso entrar na tua casinha?
-Não, não, não entras, te juro pelos pêllos da minha barbinha, icha, icha!
- Oh! oh! Respondeu o lobo muito zangado, enão vou soprar e bofar até fazer chir a tua casa!
Assim fez, soprou e bofou, bofou e soprou até que a casa acabou tambem por cahir; entrou, saltou no pobre porquito e comeu-o todo!
O terceiro porquito era muito mais esperto do que os outros; encontrou um homem que levava tijolos e pediu-lhe uns para fazer a sua casa.
Não tardou que o lobo lhe fosse bater à porta:
- Diz-me porquito, se posso entrar na tua casinha?
- Não, não, não entras, pelos pêllos da minha barbicha, icha, icha, te juro!
- Então vou soprar e bofar até que a tua casa caia!
Mas d'esta vez a casa não cahiu; era feita de tijolos e muito forte; elle soprou e bofou, bofou e soprou, e nada; a casa resistia a tudo; e elle acabou por se ir embora muito zangado.
No dia seguinte voltou e disse ao porquito:
- Saber, porquito, eu conheço um campo aqui muito perto onde ha uns nabos muito bons! Não queres lá ir?
Amanhã de manhã passo por aqui e vou-te lá mostrar o caminho, sim?
Na manhã seguinte, quando o lobo chegou e perguntou:
- Estás prompto, porquito, para ires comigo? O porco respondeu:
- Que tarde que tu vieste! Eu já lá fui e já voltei ha mais d'uma hora! Agradeço-te muito teres-me dito dos nabos, eram tão bons!
Como é de prever, o lobo estava furioso, mas fingou não se importar e disse muito amavelmente:
- Diz-me, porquito, se gostas de maçãs? Eu sei onde ha um pomar que as tem lindas, e se quizeres venho cá ámanhã de manhã para te mostrar o caminho.
No dia seguinte o lobo levantou-se muito cedo e foi a casa do porco, mas elle com certeza se tinha levantado ainda mais cedo, porque já lá não estava!
O lobo resolvou ir ao pomar, e o porquinho, que o viu vir, subiu para uma arvore. Quando o lobo chegou, disse-lhe:
- Que boas maças! Como esta.
E atirou com uma para muito longe, para dentro da herva muito crescida; e emquanto o lobo estava a vêr se a encontrava, o porquito fugiu para casa.
O lobo, cada vez mais zangado por ser sempre enganado, resolveu tornar a ir a casa do porco no dia seguinte e d'esta vez disse-lhe:
- Sabes, porquito, esta tarde vae haver uma feira no largo da aldeira; vamos lá os dois; verás como nos vamos divertir. Sim? sendo tres horas eu cá estou.
O porquito não disse nada, mas ás duas e meia foi só para a feira. Lá comprou uma bilha, e ia muito satisfeito com ella para casa quando avistou o lobo; logo que o viu resolveou metter-se dentro da bilha e fazêl-a rolar pelo monte abaixo! O monte, que era muito infreme, fez a bilha rolar com tanta rapidez que o lobo assustou-se e fugiu com toda a pressa. Mais tarde, quando já lhe tinha passado um pouco o susto, tornou a ir a casa do porquito:
- Sabes, disse-lhe, eu ia esta tarde para a feira quando encontrei uma cousa horrivel a correr pelo monte abaixo; assustei-me muito; com certeza que era alguma bruxa!
O porquito, ao ouvir isto, riu, riu, riu tanto que o lobo já estava aborrecido!
- eu era a bruxa. Disse o porco, logo que poude falar. - Vi-te vir ao longe e metti-me dentro da bilha para salvar a pelle!
Ao ouvir isto, o lobo ficou tão furioso que saltou para o telhado e começou a descer pela chaminé abaixo: mas era dia de fazer pão em casa do porquito e havia na lareira um fogo enorme, de maneira que o lobo cahiu no meio do lume e morreu queimado.
Assim acabou o lobo manhoso.
fonte: Coleção Tesouro da Juventude - Livro I, pág. 205. Ano: 1953
0 comentários:
Postar um comentário